Já está
no ar a revista Sinal de Menos #2. Seguem a capa e o editorial.
Editorial Eis o nosso segundo número de Sinal de Menos. Muito do que se pode dizer sobre os textos dessa edição está simbolizado em sua capa, composta por Felipe Drago: enquanto a produção obstinada e infinita de mercadorias vai transformando o planeta num imenso monturo de lixo, os cadáveres humanos do trabalho e do dinheiro contemplam, acossados pelo tempo abstrato da valorização, cada vez mais sem lastro, a sua própria ruína enquanto sociedade, história, cultura, subjetividade e espaço social e natural. Aliás, esse último aspecto do desastre capitalista, quase ausente em nosso primeiro número, ganha destaque em pelo menos três textos nessa edição.
A edição abre numa ENTREVISTA com Roger Behrens, um ensaísta e crítico social alemão, autor de vários escritos sobre Marcuse, Adorno e Teoria Crítica, além de editor da revista Test Card e colaborador das Revistas Streifzüge e Krisis. Os assuntos circulam pela herança frankfurtiana e a crítica do valor, indo das questões de teoria e práxis até a cultura underground e a música brasileira.
Nossa seção de ARTIGOS abre com o texto de Joelton Nascimento, que é a segunda parte de seu artigo publicado no número anterior: O valor como fictio juris. Em História e Metafísica da Forma Jurídica ele avança algumas hipóteses e questões que desenvolvem a relação problemática e ainda pouco explorada entre a sociedade produtora de mercadorias e suas estruturas de legalidade formal.
O texto de Íris Nery do Carmo, Trabalho e Emancipação: uma análise acerca do Trabalho Feminino no Capitalismo, questiona as condições históricas desiguais de trabalho e assalariamento entre homens e mulheres e os impasses e ilusões da “emancipação” das mulheres, bem como a dos homens, no interior da ordem androcêntrica do capital e do trabalho alienado.
O texto a seguir, de Paulo V. Marques Dias, Economia na base da porcaria: Como o sistema produtor de mercadorias chega ao absurdo lógico da não-qualidade total, aborda a questão da obsolescência programada das mercadorias no sistema capitalista, e põe em questão, amontoando casos e exemplos concretos, a irracionalidade do sistema.
Na continuação, desenvolvendo noutros aspectos esse mesmo tema, temos o texto de Daniel Cunha, que pode ser resumido pelo seu título irônico: Y€$! Nós somos verdes! Produção mais limpa ou sujeira sem fim? Recuperação e revolta dos “excrementos da produção”. A análise crítica de alguns dados selecionados ironiza e confronta a ideologia da chamada “produção limpa” no capitalismo.
O quinto ensaio, de Raphael F. Alvarenga, As vestes negras de Hamlet: a emergência do sujeito moderno como sujeito político, lida com a obra de Shakespeare de forma a indagar como se dá a passagem da indecisão mortificante ao ato possível, isto é, a travessia hamletiana da identificação imaginário-simbólica ao desejo e ao ato de liberdade, que abre um espaço de realizações para além das instituições reconhecidas, processo que o autor do artigo denomina como formação do “sujeito político”.
O último ensaio, O abismo do negativo: Baudelaire e a forma fúnebre da beleza moderna, faz uma leitura crítica da obra do grande poeta lírico a partir dos aportes de Benjamin, Oehler e Sartre, buscando no texto poético uma forma de iluminação de determinadas relações histórico-sociais e psíquicas da modernidade burguesa: a forma fúnebre da beleza é o revestimento interno do cadáver obstinado do sujeito moderno, que, como em Hamlet, só passa a existir como subjetividade possível na crítica aos valores e referenciais simbólicos e imaginários estabelecidos.
A terceira seção, continuando nossa linha editorial, contém algumas TRADUÇÕES: um texto de Guy Debord (O planeta enfermo) e três pequenos textos de Franz Kafka, salvo engano, ainda inéditos em livro no Brasil.
A última seção, dedicada a LEITURAS E COMENTARIOS, contém reflexões críticas sobre um livro recente de José M. Wisnik sobre o futebol na sociedade brasileira; uma resenha sobre um livro de Adriano A. Ferreira sobre questões históricas do direito burguês, Estado e marxismo; por fim, uma resenha sobre um antigo mas importante ensaio de Moishe Postone, em torno da questão do tempo abstrato, do valor de uso e do sujeito na sociedade moderna.
Julho de 2009