quinta-feira, 30 de abril de 2009

Dia da rainha (Koninginnedag)

A Holanda enlouquece no dia da rainha. Na região central de Amsterdam, uma multidão vestida de laranja, dançando e bebendo, mas também vendendo na calçada objetos que não usa (de tudo, de eletrodomésticos a objetos de decoração). A cada quadra um DJ, em cada canal centenas de barcos. A rainha parece ser uma desculpa para uma grande festa, tanto que o dia é comemorado no aniversário da rainha anterior, já que a atual faz aniversário no inverno, quando dificilmente daria para fazer uma festa dessas na rua. Uma pequena amostra aí abaixo.











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Nem tudo foi festa. Em Apeldoorn, enquanto o ônibus com a família real passava em cortejo, um automóvel alta velocidade atropelou várias pessoas, matou cinco e feriu mais de uma dezena. Aparentemente um maluco que queria atingir o ônibus. Os festejos com a família real foram cancelados, e várias cidades cancelaram festas. Em Amsterdam a coisa é grande demais para ser cancelada, apenas havia anúncios nos painéis eletrônicos pedindo para ir para casa às 20:00 em respeito às vítimas (o que não fez muita diferença, pois é uma festa diurna).



sábado, 25 de abril de 2009

Flores

Dia de ver as famosas tulipas holandesas. Na verdade elas são naturais da Turquia, mas quem dominou o seu cultivo foram os holandeses, desde o século XVII. As tulipas já foram bens de luxo e rolou muita especulação financeira com elas. Hoje a venda de flores e o turismo associado tem importante participação na economia holandesa.

A parada das flores é uma coisa um tanto bizarra: vários automóveis, caminhões, etc., oficiais e de empresas desfilam enfeitados com flores. Após, um desfile temático (livros famosos), onde os carros alegóricos são construídos, claro, com flores.

No parque Keukenhof é possível ver as inúmeras variedades de flores que são cultivadas. Pena que estava cheio demais (era o dia do desfile, talvez o mais concorrido da primavera), e haver um certo clima "disnenylandia" que não me agradou (por exemplo, imitações de totens de índios norte-americanos para os turistas estadunidenses posarem para fotos). Mas as flores realmente são belas. É a monocultura insustentável mais bonita que eu já vi.




































terça-feira, 21 de abril de 2009

Cabauw

Cabauw é uma vila na Holanda, onde fica uma estação meteorológica que visitamos. A torre tem duzentos metros de altura e há todo tipo de instrumentação. Ao redor, criação de ovelhas.






segunda-feira, 13 de abril de 2009

[-] Sinal de Menos

Sinal de Menos é um projeto coletivo do qual estou participando. Trata-se de uma revista independente, gratuita e de livre acesso que pretende perturbar o consenso de mediocridade do capitalismo fim de linha. Num nível individual, me serve como catalisador de pensamentos, que andavam meio dormentes.


Os símbolos possuem vários significados: o [-] representa o negativo e sua tentativa de contenção pelo fetichismo, mas também mostra que há furos nessa contenção; o traço também divide os de cima e os de baixo. E a outra figura (onde está o #1) pode ser vista como um polegar para baixo ou como um mapa estilizado do Brasil ou da América do Sul, indicando a condição periférica.


Abaixo seguem a capa e o editorial da primeira edição.




Editorial

Que o mundo atual apareça cada vez menos sob os trajes da positividade e do otimismo satisfeitos, parece haver poucas dúvidas. Tornou-se um fato banal a grande mídia relatar, em pânico aberto ou simulado, a explosão de crises sociais e ambientais de grande magnitude. O espectro da catástrofe ronda o planeta, abafado cotidianamente pela velha política de entretenimento de massas e administração das crises, em meio ao fracasso e ao terror social generalizados. Quanto mais o capitalismo se afirma vencedor, como a única alternativa de produção e vida, mais o desastre social e ambiental, a um certo prazo difícil de julgar, parece-nos inevitável.

Se o travo amargo do negativo se projeta sobre o todo, para nós não se trata de atenuá-lo, mas sim de aguçá-lo, com a maior contundência possível. Pois as crises que se desencadeiam não são garantia alguma de superação social, tornando-se antes motivo para reflexão sobre as formas de converter tal negatividade cega em algo realmente negativo e superador. Uma revista que nasce sob o signo da recusa – da potência do não, em vistas à criação social do novo – necessariamente se esforça por determinar e especificar aquilo que pretende negar. Não se trata de forma alguma de niilismo, reação esparafusada, desespero existencial, irracionalismo – formas abstratas de recusa pela recusa ou voluntarismo cego, feitos de um ponto de vista meramente subjetivo, individual ou grupal. Inserimo-nos, assim, no esforço coletivo de elaboração de uma crítica consequente das mediações sociais que nos afetam e nos dominam, em seus vários níveis e escalas. Alinhamo-nos à tradição de pensar e organizar uma formação cultural crítica, que necessariamente passe pela autorreflexão individual, sem a qual, queremos crer, não há nenhuma práxis realmente emancipatória.

Trata-se de mirar e atacar as estruturas fundamentais da sociedade capitalista, bem como seus momentos constitutivos e reprodutivos em suas particularidades concretas. Sinal de Menos pretende, pois, dar voz à perspectiva mediadora entre os problemas gerais e particulares, movendo-se continuamente das questões econômico-sociais mais urgentes aos movimentos de oposição, dos processos de urbanização capitalista às formas políticas e estatais, da formação social e cultural às formas de sujeito e subjetivação, das elaborações teóricas num plano mais geral à literatura e às artes. Se é correto afirmar que vemos o mundo sempre de um certo ponto de vista – no caso, da periferia do capitalismo, como seres sujeitos à loucura da valorização do capital –, talvez tenhamos, por assim dizer, ao menos alguma "vantagem" nesse ponto: pois não será aqui o lugar onde a crise mundial se manifesta em toda sua força, como revelação cabal e mesmo adiantada da fratura exposta da socialização capitalista global?

Nessa linha há bons antecedentes. No Brasil, pode-se dizer que a grande descoberta do país iniciou-se menos com as ciências sociais que com a literatura: depois de uma lenta acumulação literária, Machado de Assis despontou, em plataforma periférica, como um grande farol, ainda hoje fazendo-nos ver as faces tenebrosas de uma sociedade em que as heranças coloniais da dominação direta – escravismo, patriarcalismo, clientelismo – se entrelaçam às estruturas de dominação capitalista mais modernas. Aqui, as regulações coisificadas do capital se combinam ao mandonismo e ao capricho de uma elite cínico-esclarecida, fermentando uma cultura envenenada, de afirmação e sobrevivência selvagens, que hoje trespassa todos os estratos sociais, reproduzindo uma sociedade estilhaçada e só muito precariamente unificada – nem por isso menos moderna e capitalista, muito pelo contrário. Nosso complexo particular de problemas dá sinais ao mundo, na crise em que há muito estamos, de que o automatismo cego e destrutivo do sistema tende a ser suportado – não sem contradições – por formas subjetivas distintas do sujeito burguês europeu clássico, que hoje vão se generalizando pelo mundo todo. A grande literatura, nesse caso, longe de ser mera ideologia, detinha chaves de alguns de nossos enigmas sociais contemporâneos.

A Revista aposta então suas fichas no pensamento de que a totalidade deve se realizar dialeticamente em cada problema particular enfocado, sem privilégio de algum campo de análise. Da mesma maneira, se hoje vem se falando em "brasilianização do mundo", em geral de forma apologética, provavelmente estaremos num posto relevante para a observação crítica, adrede preparado por nossa tradição. Nesse sentido da formação, a revista segue sua linha, traçando com rigor e também certo jogo e desvio para com as regras oficiais do mundo universitário, degradado pelo mercado e pela cultura do favor, a figura composta pelos enigmas sociais. Um outro mestre em tais enigmas, Drummond, em seu "não-estar-estando" na vida danificada, concluía assim seu "Poema-orelha":

"e a poesia mais rica, é um sinal de menos."

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Nosso primeiro número abre com uma ENTREVISTA de John Holloway, na ocasião de sua vinda para o Brasil em novembro de 2007, convidado pelo grupo Fim da Linha. Aqui, ele comenta vários problemas atuais e retoma várias reflexões e conceitos elaborados durante uma trajetória de quatro décadas de crítica social.

Em seguida, na seção de ARTIGOS, temos o texto de Raphael F. Alvarenga sobre Jean Genet, escritor francês fora-de-esquadro e ainda muito pouco lido no Brasil. O ensaio desenvolve algumas linhas de seu pensamento moral, político e estético, num percurso que conecta os temas da marginalidade, da crítica e da (trans)formação.

O segundo texto, de Joelton Nascimento, desdobra as relações entre forma-jurídica e forma-mercadoria, através do debate clássico desde Marx, Rubin, Pasukanis até quase sua completa naturalização na consciência dos “bombeiros” da democracia liberal, exatamente no momento em que o Capital, incendiado, torna-se cada vez mais sem substância de valor e busca-se garantir por estruturas jurídicas de regulação.

O terceiro artigo, de Daniel Cunha, trata da questão da luta de classes na teoria dos grupos alemães Krisis e Exit, tentando dissolver, através de uma análise imanente, a cristalização teórica que impede uma apreensão crítica de conceitos originalmente negativos como os de proletariado, classe e luta de classes, e que tende a um autoofuscamento de suas próprias pressuposições e consequências práticas. Daí o diálogo de seu título com os Últimos combates de Robert Kurz.

Em seguida, Cláudio R. Duarte reconstrói a passagem do realismo ao modernismo na literatura, como um bom sismógrafo crítico das estruturas sociais e psíquicas impostas no processo de modernização, num caminho que suspende os temas da alienação, morte e espaço abstrato do plano do conteúdo ao da forma de exposição no modernismo.

Fechando a seção, Paulo V. Marques Dias lida com a questão da educação escolar como forma de reprodução do trabalhador abstrato e das condições gerais do capital em larga escala, a partir do ponta-pé do que o autor chama "surto avaliatório" e de uma análise lógica e histórica de seus pressupostos.

A terceira seção abre para TRADUÇÕES: uma de Franz Schandl, um dos principais colaboradores das revistas alemãs Streifzüge e Krisis, num excelente texto sobre a relação entre economia, criminalidade e pilhagem como "nova normalidade" do capitalismo em colapso. Em seguida, um pequeno Texto para nada (# 4) e uma micro-peça (Respiração) de Samuel Beckett, traduzidos e comentados pelos tradutores.

A quarta seção, dedicada a RESENHAS, abre para uma reflexão sobre uma coletânea recente dos escritos do arquiteto Sérgio Ferro, em seguida para a de um vídeodocumentário de 2004 sobre o filósofo Slavoj Žižek e outra sobre o filme Crash.

Abril de 2009.


A revista pode ser acessada em http://www.sinaldemenos.org/

domingo, 12 de abril de 2009

Pedalando

A Holanda pode ser percorrida de cabo a rabo de bicicleta. Agora que o tempo está ficando melhor é possível fazer bons passeios. Hoje fui até uma vila a apenas 2 quilômetros de Delft, passando por zonas "semi-rurais", dentro de uma área semi-natural que eles chamam de Midden-Delfland... com paisagens que ainda não tinha visto por aqui. Schipluiden, a vila, deve ter uns cinco mil habitantes.