sábado, 31 de janeiro de 2009

Ajax 0x1 Heerenveen

Segunda incursão em estádios holandeses, desta vez na Amsterdam Arena do Ajax. A Arena é um estádio que mais parece um shopping center, tem até escada rolante. Tudo bonito, novo, confortável e funcional, mas há algo de frio naquele estádio, no entanto, que me faz dizer que o velho reformado De Kuip é melhor. Em parte, talvez, isso se deva à torcida - a do Feyenoord é mais calorosa. A entrada em campo (vídeo abaixo), não chega a ser fria, há uma certa alegria, mas parece algo contido e tímido comparado com um estádio no Brasil. No De Kuip, é algo intermediário entre os dois.

Na entrada do estádio, ganha-se uma revista do Ajax, especial para o jogo. Nela, duas declarações que dizem muito sobre a maneira holandesa (e especificamente ajacied) de pensar e jogar o futebol - sobrou para os italianos, adeptos do catenaccio (para nós, retranca). A primeira, de Johan Cuijff, no contexto da promoção de um jogo contra a Fiorentina pela Copa da UEFA: "Os italianos não podem nos vencer, mas nós sim podemos perder para eles". A segunda, de um torcedor, em uma seção entitulada "com a palavra o torcedor". À provocação "O ajax para mim é..." ele responde: "Futebol. O Ajax joga o jogo de acordo com o seu significado, como deve ser jogado. Você vai ao estádio para ver o jogo atraente do Ajax. Não consigo entender como os italianos podem ser fanáticos por futebol. A sua maneira de jogar realmente não é para ser vista!".

Na torcida do Ajax, vários cânticos falando em superjoden - superjudeus. Uma bandeira de Israel. Pergunto o porquê a um torcedor e ele diz com toda a convicção: "porque o Ajax é um clube judeu". David Winner dedicou um capítulo em seu livro sobre o futebol holandês só para falar sobre isso. Lembra que Amsterdam sempre abrigou judeus. Diz que a antiga sede do Ajax ficava em um bairro adjacente a um bairro judeu, e por isso muitos judeus freqüentavam o clube. Mas que o Ajax, como instituição, nunca foi judeu. Michel van Praag, recente ex-presidente, disse que "o Ajax não é um clube judeu, e estes torcedores são tão judeus quanto eu sou chinês". O pai dele também foi presidente do Ajax, e era judeu. Os judeus que não viveram a guerra parecem não se incomodar, mas Bennie Muller, ex-jogador judeu do Ajax, que teve familiares mortos durante a guerra, diz: "Às vezes, quando estou sentado no estádio e ouço aqueles loucos gritando 'Nós somos super-judeus' e 'Judeus são os campeões', é tão ruim que eu simplesmente levanto e vou embora. E quando o Ajax joga contra o Feyenoord em Rotterdam... bem, não irei mais àqueles jogos". (Além do canto "Hamas, Hamas, judeus para o gás!", os torcedores do Feyenoord também produzem um zumbido em uníssino - a intenção é imitar o som de uma câmara de gás). Duas hipóteses são aventadas para o mito do Ajax judeu: resposta ao anti-semitismo dos adversários; e complexo de culpa pela ausência dos judeus de Amsterdam que morreram em campos de concentração, não sem a colaboração de holandeses.

Enfim, o que eu acabei vendo mesmo na Arena foi o Heerenveen, de novo. Não deve ser comum que um time vá a Rotterdam e Amsterdam e ganhe do Feyenoord e do Ajax no espaço de onze dias. Tá certo que o Feyenoord vinha em crise e está tendo uma campanha decepcionante na temporada (está em 14o. lugar no campeonato holandês); mas o Ajax é o vice-líder, e jogava para aproximar-se da ponta da tabela. O Heerenveen, que está em quarto no campeonato (a posição ideal, segundo uma filosofia do clube exposta em um post anterior), com um dos melhores ataques e uma das piores defesas, mais uma vez mostrou um futebol destemido, com atacantes habilidosos e inteligentes combinações ofensivas. Nos primeiros 25 minutos, o Ajax tentou tomar a iniciativa; a partir dali, o Heerenveen começou a jogar melhor - mas na verdade o primeiro tempo foi sonolento. No segundo, logo no início, um meia do Heerenveen faz um ótimo lançamento, deixando o atacante na cara do gol. O zagueiro faz falta e é expulso (era o último homem). As coisas ficaram mais fáceis para o Heerenveen, que acabou fazendo um golaço de falta com Daniel Pranjic (com esse nome tinha que ser bom; não deve durar muito tempo no Heerenveen). Filmei o lance da falta e o gol, estão aí embaixo. No final do jogo, alguns torcedores do Ajax aplaudiram os jogadores - do Heerenveen, quando eles foram saudar sua torcida.


Escadas rolantes para acessar o estádio



A grama que tem que ser trocada de três em três meses (colocaram cobertura na arena, mas esqueceram que grama precisa de sol)



A torcida, com uma bandeira de Israel (difícil de ser visualizada nesta foto)




Nenhum comentário: