A seguir um trecho que traduzi do livro "Brilliant Orange: The Neurotic Genius of Dutch Soccer" (David Winner), sobre a arena do Ajax. Qualquer semelhança com a arena do Grêmio não é coincidência.
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Fora de campo, os problemas do Ajax foram mais criações próprias, à medida em que tentaram de forma atrapalhada fazer a transição de um clube associativo para o mega-business. A Arena high-tech, concebida como uma forma de fornecer receitas para permitir que o Ajax competisse em termos mais equilibrados com os grandes clubes da Itália, Espanha e Inglaterra, é de fato um grande fracasso. A grama se recusa a crescer bem por lá, então um novo campo deve ser colocado no ritmo de aproximadamente três por temporada. Muitos torcedores mais antigos pensam que a Arena é o maior erro jamais cometido pelo Ajax. Eles se sentem alienados pela a estranha acústica de lata de metal do estádio e seus óbvios imperativos comerciais, e muitos simplesmente se recusam a ir lá novamente. As coloridas e brilhantes cadeiras de plástico do estádio “multi-funcional” são, em sua maior parte, ocupadas agora por pessoas de fora da cidade. O clube não é dono do prédio; ele meramente tem seus escritórios em um setor e aluga o resto em dias de jogos. “O velho estádio do Ajax era pequeno demais e não era bonito segundo nenhum padrão”, diz o paisagista Dirk Sijmons. “Mas ele era bom e aconchegante. E ele foi construído para o futebol, e não para fazer dinheiro. Você vê agora como o Ajax é vulnerável. É como um daqueles caranguejos, que, quando crescem, têm que encontrar uma nova concha. E enquanto eles estão à procura, estão muito vulneráveis. O Ajax tem que passar por um período como esse agora, porque a Arena não é um lar. Eles jogam lá um domingo. Mas então há um concerto dos Rolling Stones. Então, um grande congresso. Então, o lançamento do novo carro espacial da Mitsubishi. Então, depois de sete dias, o Ajax pode ir e jogar futebol novamente”.
“Essa obsessão holandesa multi-funcional de fazer dinheiro com o mesmo prédio de muitas formas, tornando o estacionamento disponível todos os dias, esse tipo de coisa... É uma idéia brilhante, claro, mas ela arranca a vida de um estádio de futebol. Um estádio também tem que descansar entre os jogos. Ele deveria esperar vazio por uma semana antes do jogo, antes que o próximo fluxo de pessoas chegue. Um estádio, de certa forma, precisa meditar. Isso é o que a Arena nunca poderá oferecer. Ela é uma instituição cuja única finalidade é fazer dinheiro, e uma dessas formas de fazer dinheiro é o Ajax. Isso é tudo. E todos sentem isso. Você tem como que apagar a luz quando vai embora, e então ela é de outros. Nós somos apenas hóspedes aqui. O De Kuip, do Feyenoord, é um estádio fantástico. Quando está vazio, a acústica é bela; quando um pássaro canta você ouve de qualquer lugar. Estádios vazios são muito especiais. E quando ele está completamente lotado, pode ser tão íntimo. Isso tem a ver com ser totalmente perfeito em suas dimensões, o fato de haver dois níveis, de que as arquibancadas estão próximas do campo, mas não são claustrofóbicas. Quando os japoneses quiserem copiar um estádio, este é o que eles deveriam escolher”.
Mesmo o leal Bobby Haarms, que está no clube por quase cinquenta anos e trabalhou em várias posições com Reynolds, Buckingham, Michels, Kovacs, Cruyff, Beenhakker e Van Gaal, não consegue esconder o fato de que a Arena o faz infeliz. O opressivo sistema de segurança do estádio e a infinita série de corredores chaveados o obrigam a carregar um molho de chaves gigante, como um carcerário. “O De Meer [o antigo estádio do Ajax] era pelo futebol. Tudo lá era perfeito. Esse lugar... bem, é pelo dinheiro”.
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